debate sobre a ilegalidade do aborto e um hipotético referendo sobre a sua legalização... o que me foi dado a ver foi, na minha opinião, um debate morno, em que os intervenientes se escudaram em frases feitas e uma agressividade de feira a raiar a falta de educação, e onde a troca de ideias sobre o assunto não passou de uma miragem... com alguma incredulidade, fiquei a saber que as mulheres são todas vítimas e não seres pensantes, e como tal devem ser desculpabilizadas dos seus actos... fiquei também a saber que as sondagens valem aquilo que valem a julgar pelos nºs, em que 63% votam o "sim" à interrupção voluntária sobre a gravidez até ás 10 semanas de gestação mas 46% acham que a vida começa no momento da concepção... pois... afinal em que é que ficamos??... na minha opinião, não me parece que a legalização do aborto venha melhorar seja o que for. Caso o referendo avance e o "sim" ganhe, não estou a ver os Hospitais a ocuparem camas neste sentido, quando se sabe que as listas de espera são enormes... Vão ganhar sim as Clínicas particulares dedicadas, que levarão rios de dinheiro e não estarão ao alcance dos bolsos de qualquer um... não estou a ver uma mulher com dificuldades económicas, ou até com vários filhos, que engravide e se desloque a uma destas clínicas para efectuar um aborto "legal"... acho que o aborto clandestino, então mais baratinho, continuará a efectuar-se de qualquer maneira, independentemente de o "sim" ganhar ou não...
Quanto à especulação levantada sobre as mulheres que foram julgadas por o praticar, e que foram apelidadas de coitadinhas e de vítimas, devo dizer o seguinte.... não me parece que sejam vítimas de nada, a não ser das suas própias acções... como muito bem lembraram os intervenientes no debate, o Portugal de hoje não é o mesmo de à seis anos... a grande maioria dos abortos são efectuados na costa litoral, onde o grau de instrução é superior e o acesso à informação é mais fácil... falamos de uma época em que as pessoas já não andam de olhos vendados nem tão pouco são ignorantes sobre o assunto... numa relação sexual, o risco de gravidez está sempre presente, e quando acontece não me venham dizer que o não sabiam, que eram todos inocentes... há hoje em dia inúmeras formas de prevenção, a ciência evoluiu também nesse sentido, e qualquer mulher que se desloque ao médico de família tem acesso a elas... contráriamente ao que se pensa, a lei existe para prevenção e não para punição... se um indivíduo mata outro por iniciativa própia, já sabe que vai ser punido, ou seja, não cumpriu o princípio da prevenção e portanto tem que se sujeitar à lei... neste caso o princípio é exactamente o mesmo... Discordo sim, do tratamento violento dado a estas mulheres e a mediatização a que foram sujeitas, apesar do cheiro a politiquice barata, sintoma da proximidade de eleições...